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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Da falência do futebol



Começo minha primeira participação no adfutbrasil tocando em um tema polêmico: a saúde financeira de nosso esporte bretão, em âmbito mundial. Primeiro, aos fatos. (Dados obtidos, em sua maioria, no ótimo Futebol Finance [http://www.futebolfinance.com/]).

Itália - De acordo com dados da comissão parlamentar de Finanças da Itália, os clubes italianos devem, ao Fisco (Imposto de Renda), mais de 550 milhões de euros em tributos atrasados.  Em contrapartida, os gastos dos times, com salários e encargos (somando os custos de todos os times da série A do Calccio), têm girado na faixa dos 800 milhões de euros. As dívidas bancárias, com empréstimos, ficam fora dessa conta por não ter, disponibilizados, dados de todos os clubes. Contudo, é importante ressaltar que as dívidas do Milan ultrapassam os 600 milhões de reais, enquanto a Inter (outra gigante) deve aproximadamente 500 milhões de reais.

Espanha – Os clubes da Primeira Liga Espanhola têm em conjunto uma dívida de 2.086 bilhões de euros. A maior fatia das dívidas dos clubes é ao fisco com valores a rondar os 627 milhões de euros e em segundo lugar vêm as dívidas à Segurança Social. Os clubes da Primeira Liga Espanhola por norma gastam mais do que ganham, tendo mesmo 6 deles recorrido ao apoio do estado, estabelecendo um plano de pagamento das suas dívidas.

Os 5 cinco clubes com maiores na Espanha
Valencia – 550 milhões de Euros
Real Madrid – 400 milhões de Euros
Atlético Madrid – 300 milhões de Euros
FC Barcelona – 189 milhões de Euros
Deportivo La Coruna – 160 milhões de Euros

Inglaterra - 18 clubes da Premier League respondem por 56% do total devido pelos 732 clubes licenciados pela UEFA em 53 diferentes federações nacionais. A soma devida pelos 18 clubes atinge 4 bilhões de euros e é quatro vezes maior que o total devido pelos clubes da liga espanhola – La Liga – a segunda liga com maior valor em dívidas. Isso em uma liga considerada a mais rica e organizada. Os vinte clubes da liga inglesa registaram perdas totais no valor de 484 milhões de libras (548 milhões de euros) na época 2009/10. A maior parte da fatia de despesas foi gasta em ordenados. Os clubes ingleses pagaram 1,59 mil milhões de euros em salários, o que dá uma média superior a 70 milhões por clube. No entanto, nem todos pagam igual aos jogadores. No topo estão três clubes: Manchester United, Chelsea e Manchester City. Só a dívida do Manchester United beira 850 milhões (2,1 bilhões de reais). É avaliada como a maior pela Uefa.

Ou seja, o futebol tem sido, financeiramente, um esporte BURRO. Uma simples análise administrativa, com olhar gerenciador, faz essa constatação. Nenhuma empresa, para possuir saúde financeira, gasta mais do que arrecada. Caso o faça, ela é obrigada a recorrer à empréstimos, cujos juros são altíssimos. A dependência de empréstimos, ao invés de sanar suas pendências financeiras, apenas as agrava. Fato.
Como controlar essa situação? Cortar gastos, otimizar o trabalho e investir em patrimônios fixos, adquirindo bens duráveis e utilizáveis pela empresa. No caso dos clubes de futebol, a receita é básica: planejamento à médio prazo, com investimento nas categorias de base e formação de jogadores (mais barato do que contratações exorbitantes); estruturação física, com a construção de academias, centros de treinamentos e estádios; a compra ponderada e planejada de reforços, transformando-os em fonte de renda com a estruturação de planos de marketing que promovam o retorno do investimento feito no menor tempo possível; e por final, o fim da dependência dos clubes de futebol junto à investidores e ao estado. O esporte deve ser auto-sustentável.
O Brasil, como sempre, copia as grandes ligas, principalmente nos pontos negativos. Com um agravante. Os clubes brasileiros não têm estrutura, planejamento ou mesmo saúde financeira para investimentos exorbitantes e pagamento de salários astronômicos aos atletas. Contudo, insiste em querer inflacionar o mercado e competir com mercados externos, muito mais fortes do que o nosso.
A consequência é, sem sombra de dúvida, a bancarrota financeira e derrocada do futebol, em âmbito mundial, com claras consequências no Brasil. É preciso investir em gastos planejados, estruturação e gerenciamento profissional dos clubes para minimizar os riscos e impedir que times tradicionais, como Vasco, Milan, Real Madrid, etc, sigam o caminho da Fiorentina, que mudou de nome, declarou falência, foi rebaixada à série D do italiano no começo dos anos 2000, por conta de dívidas e, por um bom período, virou lenda para seus fieis torcedores.
O clube voltou à elite, retomou o nome original e hoje disputa vagas em competições europeias. Contudo, esse foi um caso isolado. Caso haja a falência coletiva do futebol, iniciativas como essa não surtirão efeito. Fica o alerta.

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